segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

"Quando a Neve Cai", de John Green, Maureen Johnson e Lauren Myracle

Desde que li o livro "A Culpa é das Estrelas" que John Green tem um lugar muito especial na minha estante. Embora as obras deste autor sejam classificadas como "literatura para jovens adultos", não houve um único livro que me tenha feito sentir desconfortável ou que considerasse desadequado por já não ser uma adolescente. Pelo contrário, as perspetivas mais lineares de John Green, que decorrem do facto de o autor construir os seus enredos em torno dos pensamentos, ansiedades e expectativas comuns a todos os adolescentes, permitem a um público mais adulto e maduro um tipo de identificação que só é possível a quem já viveu "dramas" semelhantes num passado mais distante.

O distanciamento com que um adulto lê as obras de John Green é confortável e terapêutico: a adolescência é um período muito conturbado e certos acontecimentos dramáticos (uma doença, uma separação, uma ausência) têm proporções épicas e desencadeiam uma série de sentimentos e sensações com as quais estes jovens adultos não conseguem lidar, porque não têm as ferramentas ou a experiência de vida adequadas.
Cada vez que leio um livro de John Green dou por mim a viajar no tempo e a analisar determinadas situações do meu passado que consigo compreender e aceitar muito melhor agora, e este é um exercício muito reconfortante e construtivo, que talvez não ocorresse tão conscientemente se não fosse despoletado pela leitura.  Assim, nem que seja por uma horas, cada história permite-nos voltar a uma época em que sentíamos tudo com muito mais intensidade e em que todas as possibilidades se abriam à nossa frente sem o peso do futuro que nos aguardava.

"Quando a Neve Cai" encaixa-se nesta descrição, embora não seja da exclusiva autoria de John Green. Juntaram-se-lhe Maureen Johnson e Lauren Myracle, cujas obras anteriormente publicadas também se destinam ao público mais jovem. Estes três autores escrevem três contos distintos, que podem e devem ser lidos por toda a gente, de todas idades. Só há uma recomendação: façam-no em época de Natal, de preferência aconchegados numa manta, em frente de uma lareira ou num sítio quente.

Do facto de serem três autores a escrever três histórias diferentes que se entrecruzam, no tempo e no espaço, podia resultar uma obra desconexa e atabalhoada. Mas na realidade o que resultou foi um livro que nos aquece o coração, que nos emociona e nos relembra do que está na base do espírito natalício: os laços de amor, amizade e lealdades que nos deviam unir durante o ano inteiro.

Oito rapazes e oito raparigas, cujos caminhos se cruzam inevitavelmente durante uma das maiores tempestades de neve que ocorreu nos últimos cinquenta anos naquela zona dos EUA, apaixonam-se, ultrapassam obstáculos, vencem fantasmas interiores, aprendem a olhar para dentro de si próprios e relembram-nos de que os finais felizes têm que ser construídos por cada um de nós - não nos são oferecidos como uma dádiva que é nossa por direito.


✰✰✰✰✰ (5 em 5)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

"Peripécias do Coração", de Julia Quinn


Peripécias do Coração é o segundo volume da série Bridgerton, de Julia Quinn. Mais uma vez, o único reparo a fazer é relativo à tradução do título, que em nada se assemelha ao original, que é muito mais adequado: The Viscount Who Loved Me

Iniciei a leitura sabendo mais ou menos o que esperar - uma história tão boa ou melhor do que a de Daphne e Simon, as personagens centrais de Crónica de Paixões e Caprichos (Série Bridgerton - Volume I).
As minhas expectativas não foram defraudadas e começo a ter a sensação de que todas as opiniões sobre esta série (que pela lógica deverá ser composta por oito volumes, um por cada irmão Bridgerton) serão muito semelhantes e favoráveis.

Entrar no universo dos Bridgerton começa a ser como regressar a um lugar familiar e reconfortante. Nesta história cruzam-se os destinos do libertino visconde Anthony Bridgerton (o irmão mais velho) e da destemida e inconvencional Kate Sheffield.
Mulherengo e adepto da boa vida, Anthony decidiu que é finalmente altura de assentar e não há melhor sítio para encontrar uma esposa adequada do que os bailes onde as jovens solteiras são apresentadas à sociedade. Por seu lado, as irmãs Sheffield precisam de fazer bons casamentos, que assegurem financeiramente os seus futuros. Das duas,  é Edwina (a mais nova e mais requisitada) que representa o ideal de beleza e perfeição femininas, o que faz dela a jovem mais requisitada da temporada.

Anthony não é exceção e também ele considera Edwina a "joia" da temporada. Esta Sheffield é a candidata perfeita a futura esposa: uma mulher doce, educada e recatada. Além disso, é lindíssima e só um tolo não a cobiçaria. No entanto, Edwina tem outra coisa a seu favor, da qual ninguém (muito menos as Sheffield) desconfia: Anthony sabe que nunca se apaixonará por esta mulher, que não lhe desperta qualquer sentimento além do respeito e da simpatia.

Kate está determinada em encontrar o marido ideal para Edwina, que anunciou a toda a alta sociedade londrina que não se casará sem a aprovação da irmã. No entanto, Kate já tomou uma decisão inabalável: todos os pretendentes serão considerados exceto o mulherengo e libertino visconde Bridgerton, do qual tem a pior das impressões.

Cedo deduzimos que Anthony e Kate estão destinados a ficar juntos, e parece-me que a intenção da autora nunca foi guardar este segredo do leitor.
Outros segredos (especialmente os que atormentam ambos os jovens desde a infância) vão sendo revelados ao longo da história, mas o que nos envolve mais uma vez é a atmosfera recriada por Julia Quinn, cuja escrita nos transporta com extrema facilidade para a Inglaterra do século XIX.
Página a página, volume a volume, os irmãos Bridgerton conquistam um lugar cada vez mais firme no nosso coração, ao ponto de haver momentos durante a leitura em que sentimos que eles fazem mesmo parte da nossa família. E de certa forma fazem, porque todos nós vamos adotando, aqui e ali, as personagens literárias que mais nos emocionaram e com as quais mais nos identificamos.

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

terça-feira, 11 de novembro de 2014

"As Horas", de Michael Cunningham

A história de Michael Cunningham valeu dois Globos de Ouro nas categorias de Melhor Filme de Drama e Melhor Atriz (Nicole Kidman). Nunca vi o filme na expectativa de ler o livro, por isso não tinha nenhuma ideia pré-concebida acerca das personagens e do enredo.

É por demais sabido que Virginia Woolf é central n'As Horas, ficando a sensação de que esta é acima de tudo uma homenagem à escritora britânica e às suas lutas interiores, que a levaram ao suicídio, reconstituído no início deste livro.

Diagnosticada à distância como maníaco-depressiva, foi provavelmente essa natureza distorcida, neurótica e insana que inspirou Woolf a escrever as suas obras, entre as quais Mrs Dalloway, um dos elos de ligação entre todas as personagens:

- nos anos 20, a própria Virginia Woolf durante o tempo que esteve em reclusão em Richmond, nas primeiras horas em que começa a escrever Mrs Dalloway;
- no final dos anos 40, Laura Brown, uma dona de casa e mãe a tempo inteiro, casada com um herói da II Guerra, muito mais interessada em ler Mrs Dalloway do que em desempenhar os seus "deveres" domésticos;
- no final dos anos 90, Clarissa Vaughan, que partilha com a personagem do livro de Virginia Woolf o primeiro nome - Clarissa - e que é apelidada por Richard, um premiado poeta moribundo a quem está irremediavelmente ligada desde a juventude, de "Mrs. D", numa clara alusão à personagem de Mrs Dalloway.

O livro de Cunningham desenvolve-se em torno destes eixos, sendo postos em evidência temas como a bissexualidade e a homossexualidade (o autor é homossexual assumido) e a doença mental (a ideia de suicídio está sempre presente ao longo de toda a narrativa).

Além de só termos acesso ao que ocorre durante as horas de um único dia na vida destas personagens (à semelhança do livro de Virginia Woolf), Cunningham mimetiza o estilo literário utilizado por Woolf em Mrs Dalloway, o fluxo de consciência. É através da descrição dos pensamentos das personagens (que decorrem das suas impressões imediatas e não filtradas do real. ou do que para elas é naquele momento, naquela hora precisa, a realidade), que nos vamos apercebendo da ideia geral por detrás d'As Horas, e que pode ser resumida na seguinte citação (que considero ser uma das reflexões mais inquietantes que li nos últimos anos), retirada da página 221 do livro:


"Vivemos as nossas vidas, fazemos seja o que for que fazemos e depois dormimos: é tão simples e tão normal como isso. Alguns atiram-se de janelas, ou afogam-se, ou tomam comprimidos; um número maior morre por acidente, e a maioria, a imensa maioria é lentamente devorada por alguma doença ou, com muita sorte, pelo próprio tempo. Há apenas uma consolação: uma hora aqui ou ali em que as nossas vidas parecem, contra todas as probabilidades e expectativas, abrir-se de repente e dar-nos tudo quanto jamais imaginámos, embora todos, exceto as crianças (e talvez até elas), saibamos que a estas horas se seguirão inevitavelmente outras, muito mais negras e mais difíceis".

 

 

Foi esta frase de Cunningham que me obrigou a repensar tudo o que tinha lido até então, numa altura em que já tinha dado praticamente como perdido grande parte do tempo dispensado à leitura. Porque de facto este é um livro com uma densidade fora do normal, que exige do leitor um tipo de sensibilidade literária que não está ao alcance de qualquer um. De certa forma não estava ao meu alcance, razão pela qual fui lendo interpretações de ambas as obras - de Cunningham e de Woolf - numa tentativa de compreender o melhor possível o que ia lendo.

Este foi um livro que me custou muito ler e lembro-me de ir na página 50 quando lancei num fórum literário a seguinte pergunta: "sou só eu que não gosto do livro As Horas"? Curiosamente a maior parte das pessoas respondeu que tinha gostado muito mais do filme; muitas delas nem acabaram de ler o livro, e as que o fizeram não o recomendavam, tendo feito várias sugestões de leitura de outras obras do autor. Não desisti por teimosia - o livro não era assim tão grande.. ainda bem que acabei, porque a citação acima foi retirada da penúltima página e considero-a uma das coisas mais interessantes que li até hoje. Há livros assim, que nos transcendem e nos atropelam, quer gostemos deles ou não.

✰✰ (2 em 5)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

"A Cúpula: Livros I e II", de Stephen King

Comprei A Cúpula por impulso. Não lia Stephen King desde a minha adolescência, durante a qual devorei tudo o que eram livros de terror ou de ficção científica. Desde então, os meus gostos literários foram-se diversificando e o receio de já não me identificar com este tipo de ficção especulativa e alternativa fez com que fosse adiando a leitura destes livros, que foram ficando na estante, mês após mês. No entanto, com críticas tão unânimes, e a recorrente afirmação de que a história incidia mais sobre os comportamentos humanos do que a ficção científica propriamente dita, decidi que estava na altura de vencer o "preconceito".
E ainda bem que o fiz: A Cúpula é uma das melhores história de que me lembro de ter lido.

Na contra-capa somos alertados pelo New York Times de que «por mais difícil que seja pegar neste livro, é ainda mais difícil pousá-lo.»
Não podia estar mais de acordo. Os capítulos iniciais atingem-nos como um corpo estranho, pois ainda não estamos formatados para a ideia d'A Cúpula. No nosso imaginário dificilmente cabe uma realidade semelhante aquela que é criada por Stephen King: sabemos de senso comum que  não caem do céu cúpulas que isolam cidades do resto do mundo através de um campo de forças invisível e inexplicável. Simplesmente isso não acontece. No entanto, é exatamente isso que sucede em Chester Mill, uma pequena cidade do Maine (EUA). Num típico dia de Outono, igual a qualquer outro, há um avião que explode, partes de corpos que são decepadas, famílias que são separadas e acidentes rodoviários inexplicáveis. Ergue-se uma barreira entre Chester Mill e o resto do mundo, surge uma redoma transparente que cerca tudo e todos, e que vai transformar para sempre o quotidiano daquela pacífica comunidade.


Embora seja a ideia da cúpula que esteja no centro da história, na realidade é a forma como os habitantes reagem a esta nova circunstância que nos fascina durante as quase 1000 páginas que compõem este romance.
De um lado temos Dale Barbara (Barbie), um veterano da guerra contra o Iraque, que atualmente é um simples cozinheiro no restaurante Sweetbriar, e Julia Shumway, a diretora do jornal local; do outro, Big Jim Rennie, um político local em plena ascensão de poder e com uma ambição desmedida, e o seu filho, Junior Rennie, um rapaz belicoso e violento, mas sobretudo doente e desligado da realidade. Estas quatro personagens vão estar em confronto durante toda a história: Barbie e os seus apoiantes representam o bem e o que de melhor pode emergir do ser humanos em situações extremas, enquanto Big Jim é a encarnação do próprio mal, a prova de que a cegueira provocada pela sede do poder pode facilmente, e em situações limite, levar o homem a praticar atos bárbaros e tiranos.

Como afirma o crítico do New York Times, é difícil pegar neste livro, mas assim que ultrapassamos a resistência inicial, a ideia da cúpula torna-se irresistível. Simplesmente temos que saber se Chester Mill sobrevive ou não a este fenómeno inexplicável, que obviamente se vai revelando cada vez mais alienígena. Houve alturas em que senti que era um habitante de Chester Mill, quando na realidade não passava de uma leitora ansiosa por chegar ao fim de mais um capítulo.
Essa é a grande capacidade de Stephen King, considerado o mestre do suspense: deixar-nos permanentemente num estado de ansiedade que só pode ser apaziguado se progredirmos na leitura. As descrições são tão vividas, a atmosfera é tão verosímil e as sensações evocadas tão reconhecíveis, que facilmente nos embrenhamos no drama épico que envolve aquela comunidade: tomamos partidos, ficamos angustiados, tomamos como nossas as dores daquelas gentes e conseguimos perfeitamente imaginar como nos sentiríamos debaixo de uma improvável cúpula, separados do resto do mundo, sem escapatória.

Dividido em dois volumes por opção da editora, A Cúpula é um livro excelente, mas acima de tudo é uma história absolutamente fantástica, imperdível, saída da imaginação de um escritor que tem o talento invulgar de moldar o tempo e o espaço a seu bel-prazer, criando cenários que preenchem por completo as medidas da nossa imaginação.

Por fim, acrescento que a resolução do mistério por detrás da cúpula não é espetacular; não dececiona, mas também não deslumbra. O prazer deste livro está na própria leitura, no ato de ir descobrindo, página após página, os desenvolvimentos da história. Claro que queremos saber o que originou a cúpula, como é que ela apareceu e como é que ela desapareceu, mas só nos lembramos disso quando estamos mesmo a chegar ao fim e já não nos resta mais que saber sobre todos os habitantes de Chester Mill.
Ler depois d'A Cúpula é uma tarefa difícil!

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

"A Chuva Antes de Cair", de Jonathan Coe

Quando a crítica considera determinado livro uma "obra-prima" o leitor pode ficar desde logo condicionado pelas elevadas expectativas com que inicia a leitura. Por vezes, os livros aplaudidos pela crítica literária falham em chegar ao leitor comum, não provocando mais do que desinteresse ou irritação quando a leitura não avança ou é obstruída por uma aura de genialidade que simplesmente não é revelada com facilidade ao leitor comum.

No entanto, "A Chuva Antes de Cair" é uma dessas exceções, uma obra tão simples na sua escrita (e tradução), mas tão prenhe de significado, que arrepia, comove, emociona e deixa-nos a alma cheia de um tipo muito específico de contentamento que só o leitor compulsivo conhece.

Quantas realidades encerra uma fotografia? Quão verdadeiro é um sorriso quando esboçado para uma câmara? É possível olhar para uma fotografia décadas depois de ter sido tirada e reconstituir com precisão aquele instante? Ou estamos condenados a olhar o passado com os olhos da memória, construída e preservada por interpretações e sensações tão pessoais e intransmissíveis, que só nos permitem recuperar uma de muitas versões possíveis? Até que por vezes o real não é que o existe efetivamente e que é reconhecido por todos, mas antes aquilo que ara nós contém a verdade, a nossa verdade.

Vinte fotografias que nos vão sendo descritas, capítulo após capítulo, como se de um filme se tratasse. Com vestígios de história oral, o enredo vai sendo construído numa progressão cronológica e de tal forma o método utilizado pelo autor é bem sucedido que em alturas é possível ouvir a voz da narradora na nossa cabeça, como se tivéssemos sido nós a encontrar aquelas cassetes e estivéssemos confortavelmente sentados a ouvi-las, e não a virar compulsivamente as páginas na expectativa de descortinar todo o mistério em torno de Imogen, essa criança-mistério, rodeada de expectativa e redenção.

Este é um livro sobre a relação perversa que pode por vezes existir entre mães e filhas, pois nem sempre esse vínculo mítico se forja com naturalidade. É uma história de perdas sucessivas, de carências gritantes, de rancores viscerais e de trágicas escolhas. É também um testemunho da fatalidade da vida, uma lembrança de que nem sempre nos é possível controlar o que acontece nas nossas vidas, mesmo que o que se abata sobre nós decorra diretamente de erros de julgamento ou de decisões imprudentes. É também uma lembrança de que todos nós precisamos de nos sentir amados desde o dia em que nascemos, pois uma criança que cresce em profunda carência afetiva, enraíza dentro de si um sentimento de solidão e abandono que a irão marcar inexoravelmente para o resto da vida.

A sinopse é quanto basta para enquadrar o enredo: tudo o mais que se possa dizer sobre Rosamond, Beatrix ou Imogen é retirar a aura de mistério que paira sobre toda a narrativa e que envolve o leitor numa leitura compulsiva e inesquecível.

Quem optar por não ler este livro, pelo menos que fique a conhecer uma das passagens mais marcantes e que explicam um título que parece desadequado fora do contexto:

" ... «Claro que a chuva antes de cair não existe», disse ela. «E é por isso que é o meu tipo preferido de chuva. Uma coisa pode não ser real e, mesmo assim, pode fazer uma pessoa feliz, não pode?». Depois, correu para a água, com um sorriso arreganhado, deliciada com a imprudente vitória de uma lógica que era só sua", p. 133.

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

"Crónica de Paixões e Caprichos", de Julia Quinn

O título "Crónica de Paixões e Caprichos" é totalmente desadequado a este primeiro volume da série Bridgertons (o nome da família em torno da qual se desenvolve o enredo). Teria sido preferível a editora optar por uma tradução mais literal do título em inglês - "O Duque e Eu". E este é o único defeito que consigo encontrar. Tudo o resto - a história, a recriação da época e as personagens - é delicioso.

O livro lê-se num instante, com uma facilidade que pode ser confundida com falta de profundidade ou conteúdo, mas que na realidade decorre da capacidade da autora (e, neste caso, da tradutora) em criar um enredo simples, cativante, mas repleto de pormenores e de referências que nos transportam instantaneamente para a alta sociedade londrina do século XIX.

Começamos a ler e de repente já não estamos em 2014, mas sim num salão de baile, em busca do par perfeito, de ouvido apurado para ouvir o último mexerico da temporada ou simplesmente encostada a um canto a observar o desfilar de belas jovens solteiras a cobiçar discretamente os atraentes (e solteiros) pretendentes que por lá fazem as suas aparições, em busca da esposa perfeita.

No início do livro somos apresentados ao pequeno Simon, herdeiro do ducado de Hastings, cuja personalidade ficou marcada por uma infância complicada e tortuosa. Para fugir de todo este legado familiar, um Simon já adulto parte à descoberta do mundo, fazendo inúmeras viagens pela Europa e pelo Hemisfério Sul, só retornando a Inglaterra quando recebe a notícia da morte do pai.
Este regresso não passa despercebido e, embora tenha jurado nunca se casar, Simon rapidamente se transforma no solteiro mais cobiçado da temporada - é um jovem duque muito atraente, rico e instruído, pelo que era inevitável que todas as mães casamenteiras da alta sociedade o quisessem como marido das suas filhas.

Num dos famosos bailes que caracterizavam a sociedade londrina do século XIX, Simon conhece
Daphne Bridgerton, que se sente esmagada pela pressão exercida pela matriarca da família (Violet), que não descansará enquanto não casar a sua filha mais velha. Daphne deseja ardentemente encontrar o homem dos seus sonhos, casar e ter filhos, mas não a qualquer custo. 
Rapidamente, os dois jovens apercebem-se de que a simulação de um noivado entre os dois é a solução para os seus "problemas". Só não contavam apaixonar-se um pelo outro.

É a partir deste ponto que a história ganha densidade e a mestria da autora está na sua capacidade de dosear o mistério, o romance, o humor e a crítica social de forma a que o leitor sente que a única alternativa que tem é ler compulsivamente até que não restem mais páginas para virar.
A boa notícia é que existem mais sete volumes, cinco dos quais já traduzidos para português, e ainda bem, porque quando terminamos a leitura desta "Crónica de Paixões e Caprichos" sentimos que já fazemos parte da família Bridgerton, e provocar este tipo de sensações num leitor não está ao alcance de todos os autores.

Julia Quinn, que já foi considerada a Jane Austen do século XXI, é uma grande contadora de histórias, que sabe precisamente como funciona o coração de uma mulher, atingindo em cheio os nossos pontos fracos, pelo que é praticamente impossível que uma alma romântica fique indiferente a este livro e que não se derreta, mesmo que secretamente, com a história de amor entre Simon e Daphne. 

✰✰✰✰ (4 em 5)




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

"Union Atlantic", de Adam Haslett

Escrito nas vésperas da grande crise financeira do subprime, dos créditos de risco e da bolha especulativa e imobiliária, Union Atlantic é um livro sobre a economia mundial, mas também sobre pessoas, sobre os medos e as ambições que inexoravelmente vão regendo as vidas de cada um.

Iniciei a leitura deste livro com receio de não ter conhecimentos suficientes para compreender alguns termos técnicos que se adivinhavam: swaps, subprime, créditos de risco, etc. No entanto, o autor só recorre a uma linguagem mais técnicas quando é estritamente necessário e quando quer conferir autenticidade às suas descrições ou aos diálogos entre as personagens que estão diretamente ligadas ao mundo da banca e da alta finança.

A crítica aplaudiu a obra de Haslett precisamente pela contemporaneidade do tema escolhido: a crise económica que assentou na concessão de empréstimos de alto risco; a forma como a falta de regulação dos mercados (especialmente do Norte-Americano) levou à insolvência de várias instituições bancárias (que também estendiam a sua ação ao ramo dos seguros e da imobiliária); e a quebra de confiança geral no sistema financeiro após a crescente perceção de que a falta de liquidez no sistema não era uma possibilidade, mas sim uma realidade.

No meio deste furacão financeiro, entrecruzam-se as personagens de Union Atlantic: Doug Fanning, um jovem e ambicioso banqueiro, que fez fortuna a dirigir as operações financeiras de alto risco no "pequeno" império que é a instituição que dá nome ao livro; e Charlotte Graves, uma professora de História compulsivamente reformada, cujos esforços para recuperar a herança de família a colocam em confronto direto com Doug, numa cruzada jurídica com reviravoltas muito significativas.
Ainda assim, o antagonismo entre Doug e Charlotte é mitigado pelo que há de comum entre estas personagens que estão inexoravelmente unidas pelo caos em que se encontram as suas vidas despedaçadas, e a própria espiral de descontrolo que os envolve acaba por ter paralelo no próprio desgoverno em que se encontra o sistema financeiro.

O conflito entre Doug Fanning e Charlotte Graves é, na realidade, uma parábola, que ilustra a forma como a intromissão generalizada do dinheiro, do desperdício e da ostentação (como é referido pelo próprio autor) colidem inevitavelmente com os valores da justiça, da lealdade e da transparência.

O autor não optou por um fim moralista ou redentor. Acaba por não ser feita justiça no sentido literal do termo, pois não há condenações efetivas para os que perpetraram os crimes em causa, e o sistema mantém-se inalterado - aqui e ali somos alertados para as complexas relações que se forjam entre o sistema político e financeiro dos EUA, sendo evidente que o Capitólio e Wall Street funcionam em estreita cooperação.
Ainda assim, o desfecho é circular e o leitor fica com a sensação de que não ficam pontas soltas por atar: Doug pacifica-se com o passado e Charlotte acaba por conseguir exorcizar todos os seus demónios, mesmo que o seu destino acabe por ser o mais trágico de todos.

✰✰✰✰ (4 em 5)



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

"Eu, Alex Cross", de James Patterson

O Alex Cross continua a ser o melhor detetive do mundo e James Patterson (na minha opinião) é um dos grandes nomes da literatura policial contemporânea.

Este 16º volume foi um dos meus favoritos, embora considere que o melhor de todos é o 1º - "A Conspiração da Aranha", o que deu origem ao filme com o Morgan Freeman no papel de Alex Cross, e o que causa maior impacto, pois é ele que nos põe em contacto pela primeira vez com esta personagem tão complexa e tridimensional.

Como em todos os livros de Patterson, os capítulos são muito curtos (alguns de uma única página), o que confere um ritmo ainda mais acelerado à narrativa e torna a leitura muito fluída e quase cinematográfica. Além disso, as premissas da história são explosivas: Alex descobre na noite do seu aniversário que a sua sobrinha (que não vê há mais de 20 anos) foi brutalmente assassinada, a dado momento percebe-se o claro envolvimento da Casa Branca numa situação que pode colocar em causa a própria Administração e a avó "Nana" também corre risco de vida e a vida do próprio detetive pode estar em risco, como já nos temos vindo a habituar.

"Eu, Alex Cross" é muito pessoal - talvez o mais pessoal de todos os volumes que li. É estabelecida uma nova familiaridade com a personagem central desta série e com todos os elementos da família, Bree incluída, a namorada que já o acompanha desde há alguns anos. É impossível ficar indiferente ao sofrimento do clã Cross durante a investigação do assassinato de Caroline Cross e da própria doença de Nana, a matriarca que todos os leitores já se habituaram a ver como a avó que todos gostavam de querer.

Aguardo com muita expectativa a publicação do próximo volume, que certamente vai ser devorado tão ou mais depressa do que este.

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

"Uma Obra Enternecedora de Assombroso Génio", de Dave Eggers

Desde que soube que este livro tinha sido publicado que o quis ler e parti para esta leitura com enormes expectativas. Por um lado, o autor - Dave Eggers - tem sido muito elogiado pela crítica; por outro, só o título por si só é muito sugestivo, e o leitor não espera menos do que uma obra extraordinária, fruto de um assombroso génio.

Autobiográfica, pelo menos na sua essência, esta obra de não-ficção rapidamente nos transporta para o território do romance. A história de uma família órfãos improváveis e a ainda mais improvável história de um órfão de 22 anos que ficou responsável pelo seu irmão mais novo, Christopher, são premissas que nos prendem de imediato. A relação de Dave com o seu irmão Toph (a alcunha pela qual é conhecido) é ela própria assombrosa e genial, imatura e (ir)responsável, caótica e (dis)funcional, tumultuosa e ternurenta, tudo em simultâneo.

A história das doenças e das mortes dos pais de Eggers é-nos contada através de sensações e memórias soltas. Esta tragédia familiar ocorre em Chicago, cidade natal que todos abandonam de imediato, rumo a São Francisco, onde tem início uma nova vida familiar totalmente reconfigurada.

Nos anos 90, numa América em transformação, onde a Internet e os media começam a dominar o quotidiano, sobressai o idealismo próprio de quem tem 20 anos, se considera invencível e, de certa forma, destinado a grandes feitos. É este idealismo que está na base da criação da revista Might, outro dos eixos centrais deste livro. A Might foi fundada em São Francisco por Eggers e alguns amigos que já o acompanhavam nos tempos em que morava em Chicago e é um produto da chamada "Geração X", jovens intelectualmente transgressivos, com uma postura de desafio perante a geração anterior no que se refere à aquisição de direitos, à libertação sexual e à valorização da mulher.

Eggers está no meio de todo este turbilhão sociológico, mas forçosamente tenta proteger ao máximo a estrutura familiar que ergueu de raiz em torno do seu irmão mais novo, substituindo-se aos próprios pais, numa época em que o conceito de família está em simultânea decadência e transformação. Dave vê-se forçado a substituir o seu papel de filho pelo de pai, numa altura em que todos os valores, crenças e ideologias são postos em causa pelo advento da Internet, das novas tecnologias e de novos conceitos mediáticos, como o programa The Real World, da MTV, que vulgarizou o conceito de reality show, até aí desconhecido.

A história dos irmãos Eggers entrecruza-se, portanto, com a história da revista Might e com as estórias de uma série de outras personagens secundárias, que acabam por se transformar em personagens-tipo cuja função é ilustrar o que foi a década de 90 numa cidade que estava no centro de todas estas mudanças tecnológicas, sociais e comportamentais.
A grande mais-valia deste livro (e da própria história pessoal do autor) é ilustrar de uma forma tão original o modo como um pré-adulto de 22 anos conseguiu ser bem sucedido na missão de educar uma criança nos anos 90, onde tudo era novidade e possibilidade, passível de ser posto em causa, destruído e reerguido todos os dias, caso fosse necessário.

Gostei mais da ideia por detrás do livro do que do livro em si, que se torna de certa forma enfadonho e repetitivo no último terço. Gostava de ter ficado a conhecer melhor os outros irmãos de Dave (Beth e Bill), que acabam por se transformar em personagens secundárias, quase acessórias, como se as únicas unidades significativas fossem Dave e Toph.

Ainda assim, é uma leitura que vale a pena e a tradução é excelente, pelo que nunca senti ao longo do livro que o significado ou simbolismo de determinada situação ou referência se perdessem por não estar a ler o texto original.

✰✰✰ (3 em 5)

"O Comboio dos Órfãos", de Christina Baker Kline

A história é extraordinária e foi só através da leitura deste livro que soube da existência de um comboio que andou pelo interior da América, no final dos anos 20, a distribuir crianças órfãs por quem delas precisasse ou que delas quisesse tomar conta. 
Baseado em factos verídicos, o que mais impressiona neste livro é o modo como a autora consegue captar o medo e o sentimento de abandono que dominava aquelas crianças. Além disso, a maior parte destas crianças era adotada por famílias do interior dos estados norte-americanos, que precisavam de mão-de-obra gratuita (as meninas costuravam ou faziam a lida doméstica, enquanto os rapazes eram recrutados para trabalhar nas quintas, na agricultura ou na criação de animais). Assim, nem sempre a paragem do comboio numa estação significava um futuro melhor para uma daquelas crianças.

A ação desenrola-se em duas épocas distintas, dividindo-se entre a atualidade, protagonizada por Molly, uma adolescente com um passado traumático, também ele uma órfã, e o passado distante, onde predominam as memórias de Vivian, uma das órfãs do comboio.  
É no contacto entre estas duas personagens que se vai desenrolando a história de Vivian, nascida Niahm numa Irlanda empobrecida e faminta. A ida de Niahm e da sua família para Nova Iorque tem um desfecho trágico e a menina vê-se sozinha, entregue aos procedimentos de uma instituição de acolhimento de órfãos, cujo procedimento é distribui-los por várias terras do interior do país durante uma angustiante e viagem de comboio. 

Niahm/Dorothy/Vivian (é muito interessante o relato de como esta criança vai crescendo e adotando novos nomes consoante as circunstâncias em que se vê envolvida) vence todas as contrariedades e é já com 90 anos que relata a sua história a Molly, uma adolescente problemática, mas sensível, cuja revolta se deve mais ao facto de ter passado por demasiados lares de acolhimento e de não ter tido a oportunidade de crescer numa família estável e que a acarinhasse. A empatia que se cria logo desde início dá lugar a uma improvável amizade, que acaba por ser redentora e determinante para ambas.

Este é um livro muito interessante porque nos por em contacto com uma realidade desconhecida. Ainda que as personagens sejam cativantes, senti algumas dificuldades em me afeiçoar a Vivian ou Molly. Há alguma falta de profundidade na história e o leitor fica com a sensação de que alguns dos episódios do passado poderiam ter sido explorados com mais detalhe de modo a conferir maior densidade à narrativa. O final é muito emotivo, mas abrupto, acontecendo tudo com muita rapidez e pouca contextualização. Ainda assim, é uma leitura que não desaponta.

✰✰✰ (3 em 5)

domingo, 10 de agosto de 2014

"Envolvidos", de Emma Chase

Logo na capa somos avisados de que "Envolvidos" é um dos livros mais hilariantes do ano - eu acrescento que este pode mesmo ser um dos livros mais divertidos de sempre (pelo menos para mim), embora esteja na expectativa de que os volumes que se seguem sejam igualmente divertidos.

A escrita de Emma Chase não é só muito divertida: é muito inteligente. Por norma, escrever um livro com um pendor cómico é muito difícil, pois o autor corre sempre o risco de cair no ridículo ou de falhar o timming da piada. Mas é com muita auto-confiança que a autora transforma uma história que facilmente se poderia tornar banal e igual a tantas outras num suceder de episódios hilariantes, que culminam num desfecho cuja previsibilidade não incomoda o leitor.

Drew é um playboy, imaturo, mas muito rico e atraente, que nunca teve uma relação séria com qualquer uma das suas conquistas. Kate é uma mulher sofisticada, inteligente e determinada, cuja ambição é ascender a pulso no mundo da alta finança. É precisamente este pormenor que faz toda a diferença: a mulher que vira do avesso a vida de Drew não é a típica mulher doce (e muitas vezes carente) que através das suas virtudes e nobreza de carácter faz o aparentemente impossível - conquistar o coração de um homem que se julga imune ao amor. Pelo contrário, Kate é tão ou mais determinada e sagaz do que Drew, pensa exatamente como ele quando se trata de fechar um bom negócio e responde-lhe sempre à altura, qualquer que seja a situação. O ambiente altamente explosivo que um envolvimento deste tipo propicia deixa-nos completamente agarrados ao livro.

A inteligência da escrita de Emma Chase está também presente numa opção da autora que não é comum neste tipo de romances: toda a história é relatada sob o ponto de vista de Drew, que em discurso direto e dirigido ao leitor vai explicando, passo a passo, como é que funciona a mente masculina. Não há mulher/leitora que resista a uma abordagem deste tipo: mesmo sabendo que Drew se comporta como um ser desprezível, não é possível não o adorar completamente pelo seu charme e honestidade.

Esta foi uma aposta genial por parte da Topseller, uma editora que não deixa de surpreender pela positiva ao apostar em histórias diferentes.
Espero ansiosamente pela publicação dos próximos volumes e vou recomendar este livro a toda a gente!



✰✰✰✰✰ (5 em 5)

domingo, 27 de julho de 2014

"O Príncipe das Marés", de Pat Conroy

Este foi o primeiro livro que li de Pat Conroy, mas seguramente não será ultimo - tenho já em lista de espera outro livro deste autor, que também tem como cenário a Carolina do Sul, intitulado "O Último Verão das Nossas Vidas".

"O Príncipe das Marés" não é Tom Wingo, a figura central da história. Este homem de meia idade, desempregado e a viver uma crise no seu casamento, ao mesmo tempo que tenta lidar com mais uma tentativa de suicídio da sua irmã gémea, não tem em si mesmo força de carácter para ser considerado um príncipe das marés. Aliás, toda a história se desenvolve em torno das fraquezas de Tom e do modo como o seu carácter, personalidade e sistema de valores se consolidam em oposição dos dos irmãos, todos diferentes entre si, mas irremediavelmente complementares. 

A história de Tom Wingo e da sua família vai muito além desta descrição que fiz. O livro dá-nós também a conhecer a dura realidade dos pescadores de camarões dos rios da Carolina do Sul, tão diferente das imagens que construímos acerca das paisagens do norte da América. É também uma lição de vida, no sentido em que nos alerta para a importância que têm os acontecimentos traumáticos da infância, o modo como os pais podem marcar (aqui pela negativa) irremediavelmente a vida dos filhos, ao ponto de os transformar em adultos muito diferentes daqueles que poderiam ter sido noutras circunstâncias. A dada altura há uma perda total da noção das consequências dos próprios actos. Aqui todos foram vítimas das circunstâncias e das ambições inconcretizaveis - o que os pais das crianças Wingo desejavam para eles próprios lançou toda a família em desgraça, financeira e psicológica. 

Foi um livro que me deu muita luta: demorei mais tempo a lê-lo do que tinha planeado. É duro, cruel, pungente e muito melancólico. Está presente em todas as páginas a tristeza provocada pelas  oportunidades perdidas, pelo tempo desperdiçado, pelas palavras ditas ou mesmo pelas que ficaram por dizer. É uma obra quase poética pela capacidade de materializar uma angústia profunda que varre toda a família Wingo.

Não vi o filme O Príncipe das Mares", protagonizado por Barbra Streisand e Nick Nolte e ainda bem: Tom Wingo e a Susan Lowenstein (a psiquiatra que acompanha a irmã suicida e que guia Tom até às profundezas do seu passado) que eu imaginei não correspondem à imagem que surge na capa da edição que li, retirada do material publicitário do filme. É sempre assim: o livro é melhor do que o filme e até só fim achamos sempre que teríamos feito um casting muito melhor!


✰✰✰✰✰ (5 em 5)




domingo, 22 de junho de 2014

Leitura inacabada (e outras considerações) - "Os Filhos da Costa do Sol", de Manuel Arouca

Já tinha ouvido falar dos "meninos do Estoril", uma geração nascida e criada na Costa do Estoril, que viveu intensamente os anos 70.

Há uns dias, numa livraria, folhei um livro de Manuel Arouca intitulado "Os Filhos da Costa do Sol - A Nova Geração". Li a sinopse e só não o comprei porque me apercebi de que era a segunda obra de ficção que Manuel Arouca - também ele um "menino do Estoril" - escrevia sobre o assunto.

Foi, portanto, pela vontade de ler sobre a "nova geração", que iniciei a leitura daquele que foi considerado um dos primeiros grandes best-sellers da literatura moderna portuguesa.

No entanto, não consegui chegar sequer a meio do livro.. e nem a promessa de ter um segundo volume à espera me convenceu - "A Nova Geração" descende diretamente da primeira, e a maior parte dos leitores não resiste à possibilidade de saber o que sucedeu às personagens que o acompanharam durante a leitura de determinado livro.

Quando compro um livro forço-me a lê-lo até ao fim, por muito que a leitura não me cative - é uma questão que está diretamente relacionada com o investimento deliberado que foi feito: financeiro e emocional, porque a compra de um livro é também ditada pela emoção (se a capa é ou não sugestiva, se a ideia por detrás da história nos cativa ou não de imediato, se gostamos ou não daquele autor, etc.).
Este livro especificamente foi requisitado na Biblioteca das Galveias, em Lisboa, pelo que o investimento foi mínimo.

É do conhecimento generalizado que os anos 70 foram "loucos". Em Portugal não houve exceção a esta regra: foram vividos por uma geração inquieta, sem complexos, que respirava droga e sexo. Ainda assim, até onde li, Manuel Arouca vai-se referindo aos "betinhos" e "caretas", aos filhos das grandes fortunas daquela zona, cujos horizontes estava limitados pela recusa em embarcar nessa viagem alucinante ao mundo da droga, cujo bilhete eram as "joints", esses charros feitos de erva "da boa" - a melhor era importada das colónias portuguesas, consegui apurar.. Há, aliás, uma descrição fantástica de um baile de debutantes que, só por si, valeu o sacrifício que representou a tentativa de ler este livro.

Não consegui ler além das 100 páginas porque aquilo que deveria ser o contexto que envolve as personagens acaba por se transformar na temática do próprio livro: a eterna busca existencialista por parte da geração mais jovem, a presença permanente da droga e da bebida, o sexo inconsequente com as turistas estrangeiras que procuravam a Costa do Estoril, conhecida pelas praias e pelo estilo de vida despreocupado e indolente.. é só isto. Provavelmente a história evolui, as personagens amadurecem e o contexto endurece - dá-se entretanto a revolução de Abril e subitamente a realidade deixa de ser tão doce - mas o autor já não foi a tempo de me agarrar.


Ainda assim, esta é uma opinião (a minha) entre muitas. Até onde li, gostei da sensação de me identificar com algumas referências espaciais que são dadas - o Tamariz, as praias do Estoril, o "Deck", a discoteca 2000, etc. Mas não foi suficiente para me manter interessada, o que me entristeceu enquanto leitora, porque tinha altas expectativas para estes dois livros.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

"Duas Vidas", de Jessica Thompson (Opinião)

Já iniciei esta leitura influenciada por algumas opiniões negativas que fui lendo, de leitores que, como eu, se deixaram enganar pela falsa semelhança ao livro "Um Dia".
Há um esforço tão flagrante para mimetizar esse livro (que é brilhante e original dentro do género), que a história se emaranha em si mesma, ao ponto de o leitor perder a paciência. Foi já com muito esforço que me obriguei a chegar a um fim, que desilude por tão previsível e insípido que é.

Por várias vezes, incitei os personagens a tomar uma atitude: não é possível que duas pessoas profundamente apaixonadas uma pela outra convivam durante anos a fio sem que pelo menos uma delas se descaia, que perca as estribeiras e que confesse esse amor que julga ser não correspondido. Pelo menos é essa a ideia que eu tenho do modo como geralmente se consolidam as relações românticas entre duas pessoas.

Talvez seja um bom livro para românticos incorrigíveis ou para quem acredita que há sempre finais felizes, mas a mim não me convenceu.


✰✰ (2 em 5)

sexta-feira, 13 de junho de 2014

"O Príncipe da Neblina", de Carlos Ruiz Zafón (Opinião)

Este conto, o primeiro de uma trilogia, alicerça-se em elementos que já são habituais nos livros de Zafón: neblinas, um relógio cujos ponteiros recuam no tempo, um jardim de estátuas que se movem, vozes que sussurram e espectros que assombram os vivos.

Talvez por ter tido origem nas primeiras ideias que Zafón desenvolveu enquanto escritor (como o próprio afirma no prefácio), este é um livro com poucas páginas, no qual não abundam os pormenores ou a contextualização. Aliás, quando chegamos à última página ficamos com a sensação de que queríamos saber muito mais sobre aqueles personagens, que por falta de desenvolvimento acabam por se nos afigurar muito bidimensionais.
Página a página, vamos inferindo a história através das descrições dos ambientes fantasmagóricos e surreais , que mais tarde encontraremos mais polidos na "Sombra do Vento", aquele que para mim é um dos melhores livros que li até hoje.

A tradução deixa transparecer uma escrita ainda ingénua e crua, um embrião do autor de renome que Zafón seria no futuro. É o livro indicado para quem se quer iniciar no universo deste autor, que se demarca dos demais pela destreza com que utiliza elementos góticos nas suas obras e cria ambientes e histórias espetaculares, que obrigam o leitor a sair da sua zona de conforto.

✰✰✰ (3 em 5)



quarta-feira, 11 de junho de 2014

"Porto de Abrigo", de Elizabeth Berg (Opinião)

Nem sempre um livro consegue estar à altura dos comentários que constam nas contra-capas - por regra, pequenas considerações de críticos de renome. Este "Porto de Abrigo" é descrito como sendo "Simples, belo e real"e "Sábio, gracioso e romântico". E realmente é isso tudo e muito mais, na minha opinião, claro!

Elizabeth Berg não é uma autora da moda, mas a Bertrand já publicou várias das suas obras, o que significa que os leitores portugueses gostam das suas histórias. Eu adoro, e progressivamente tem-se tornado numa das minhas autoras favoritas. Histórias simples, honestas e de uma simplicidade que nos toca no fundo da alma. Os livros de Elizabeth Berg são retratos do dia-a-dia e contém histórias que podiam ser as de qualquer um.

Já tenho mais dois (e em breve três) livros da autora para ler :)

Recomendo.. a todos os leitores e leitoras, independente da idade ou género literário preferido.

✰✰✰✰ (4 em 5)

"Quando Éramos Mentirosos", de E. Lockhart (Opinião)

A certa altura lê-se "O coração nunca lhe saltava do peito para ficar aos saltos, impotente, em cima da relva. Ela nunca se derretia em poças. Ela era normal. Sempre. A qualquer custo".

Esta frase resume grande parte da história, aparentemente centrada numa família que nos é apresentada como sendo perfeita, focada na manutenção do status quo a qualquer custo e que só poderia existir numa América muito particular, enraizada no estilo de vida das classes altas norte-americanas.

Embora classificado como sendo uma obra para "jovens adultos", este é um livro para todas as idades e que nos prende desde o início pelo insólito das situações e tom sarcástico com que elas vão sendo relatadas. Cedo percebemos que nada é como era suposto ser e o fim é absolutamente fantástico.

A recomendação de John Green que foi incluída na capa da edição portuguesa serviu-me como selo de garantia e é um livro altamente recomendável para quem como eu adora esse autor.

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

"O Jardim das Torres Invisíveis", de Qais Akbar Omar (Opinião)

Não é um livro de fácil digestão e talvez por isso tenha demorado tanto tempo a lê-lo. Ao retratar as últimas três décadas da história recente do Afeganistão, com epicentro em Cabul, nesta autobiografia o autor coloca-nos perante a crueldade e desumanidade que um cenário de guerra alimenta.

Está é a história de um menino que se faz adolescente e homem durante sucessivos conflitos, que o levaram a si e à sua numerosa família numa fuga mal sucedida por todo o Afeganistão.

Faz-nos pensar que o nosso conceito contemporâneo de "liberdade" enquanto ocidentais em nada se assemelha aos desejos e aspirações destes povos islâmicos, sucessivamente paralisados pela guerra, política ou religião.

É uma história simples, que, como o próprio afirma, podia ser a história de qualquer família afegã que permaneceu na sua pátria durante a(s) guerra(s). Não é uma história fácil porque é verdadeira, aconteceu mesmo e não devia ter acontecido.

✰✰✰✰ (4 em 5)

"Irmã", de Rosamund Lupton (Opinião)

Hesitei entre as 3 e as 4 estrelas.. Não é um mau livro: a história é convincente, vai sendo solidamente construída, aos poucos, mas falta-lhe qualquer coisa (acho eu, que adoro thrillers e policiais em geral). Senti-me a pairar durante toda a leitura, sem me conseguir sentir ligada a qualquer uma das irmãs.. Não gostei do final, embora me pareça adequado.

Estava à espera de mais (talvez também tivesse expectativas muito elevadas).

✰✰✰ (3 em 5)

"O Livro Negro", de Hilary Mantel (Opinião)

É um livro praticamente perfeito.. a tradução é fantástica e capta toda a subtileza da escrita de Hilary Mantel, cuja mestria é invulgar. Depressa nos habituamos ao humor negro, ao tom sardónico que é dado ao acumular de situações e considerações que levam ao destino sobejamente conhecido de Anne Boleyn: a sua decapitação.

No entanto, o que foi iniciado em Wolf Hall não é a história dos Tudor ou da vida de Henry VIII, mas sim da ascensão de Thomas Cromwell, cuja história, como a própria autora refere na nota final do livro, ainda está por contar. É um livro soberbo, duro, cruel, demasiado realista, até, onde a vida cortesã da Inglaterra do século XVII é descrita como provavelmente deve ter sido: repleta de jogos de poder dissimulados, intrigas e dissimulações.

O próximo volume ainda nem sequer foi publicado no original, mas deve ser já uma das obras mais aguardadas dos últimos anos. Todos queremos saber como é que acontece a queda inevitável de Cromwell, um homem muito mais interessante e tridimensional do que qualquer outro que terá cruzado os destinos de Henry VIII.

LEIAM!!

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

"Antes de Eu Morrer", de Jenny Downham (Opinião)

Esta é outra daquelas situações em que faz falta a "meia estrela"... Concordo com algumas opiniões que li: temos que nos forçar a gostar de Tessa e cheguei mesmo a sentir-me culpada por me apetecer abaná-la e gritar com ela (como fazem o pai, o irmão e a amiga por diversas vezes ao longo do livro) porque quase instantaneamente me lembrava de que é indescritível a noção exata de que se vai morrer em poucas semanas, dias ou mesmo horas.
Estava à espera de outra coisa, de outro tipo de abordagem. Pensei que iriam haver mais descrições acerca da doença, dos tratamentos, etc., mas na realidade centra-se no modo como se lida (ou não) física, emocional e psicologicamente com uma situação impossível.
Não desgostei e não me arrependo de ter lido, mas tocou-me menos do que o que estava à espera.

✰✰✰ (3 em 5)

"A Livraria Noite e Dia do Senhor Penumbra", de Robin Sloan (Opinião)

É um livro muito divertido, muito bem traduzido e que se lê de uma assentada.

Foi dos livros mais surpreendentes de que me lembro de ter lido: o enredo é muito original e atual. A história centra-se na resolução de um mistério antigo que contém a chave para a imortalidade, mas é muito mais do que isso. É uma reflexão acerca da sobrevivência do livro em papel num mundo cada vez mais tecnológico e informatizado, mas também da imortalidade do conhecimento antigo, que nenhum computador poderá substituir.

É ideal para quem adora livros, mas que tem o "bichinho" das novas tecnologias; para quem a materialidade do livro é fundamental, mas que não dispensa o Google, a Amazon e os gadgets.

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

"As Horas Distantes", de Kate Morton (Opinião)

É um livro absolutamente maravilhoso, sobre o amor, a devoção, mas também o sentido de dever, a proteção, mas também, de certa forma, o ressentimento e a frustração que decorrem das oportunidades perdidas.
É uma história cheia de segredos intrincados e de mistérios bem guardados. O suspense dura praticamente até ao virar da última página e o facto de no centro da história estar um livro e o amor pela escrita ainda torna esta obra mais especial.

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

"Os Livros do Final da Tua Vida", de Will Schwalbe (Opinião)

Quando li a contra-capa fiquei com receio de que se tratasse de um livro melodramático e lamechas. Enganei-me completamente e se pudesse agradecia ao autor por ter partilhado a sua história, tão especial e terna. É a paixão pelos livros que ajuda mãe e filho a suportar a dura batalha contra o cancro, que vai sendo descrita ao longo dos capítulos, e foram os livros que os uniram e os ajudaram a ultrapassar uma situação dura e cruel, com desfecho previsível. Adorei e já faz parte da minha biblioteca de livros a "guardar".

✰✰✰✰ (4 em 5)

"Tudo Sobre Ti", de Melissa Hill (Opinião)

Lê-se com a mesma facilidade e desprendimento com que se vê uma comédia romântica.. Não deixa saudades, mas é bom para limpar da memória (boas) histórias de livros lidos recentemente.

✰✰✰ (3 em 5)

"Madrugada Suja", de Miguel Sousa Tavares (Opinião)

Não tenho por hábito ler autores portugueses. Não é preconceito ou snobismo, apenas me identifico mais com a literatura inglesa e americana.

No entanto,soube-me bem, para variar, ler um autor "da minha terra", que fala de coisas do quotidiano e com as quais rapidamente nos conseguimos identificar.

Ainda assim, não me pareceu um livro fora de série. É interessante pelo retrato que faz da época imediatamente pós-25 de Abril, mas mesmo essa contextualização parece forçada, como se MST se servisse da condição dos personagens servisse unicamente para apresentar o contexto, e não o contrário (como é habitual).

Fala sobre corrupção, sobre o modo como o nosso país foi evoluindo nos últimos 40 anos e sobre a aleatoriedade da vida e a consequência das ações, mesmo que irrefletidas

Madrugada Suja é sobretudo sobre uma noite de azar, mas também como todos somos a soma de tudo o que vivemos, desde o primeiro sopro.

A escrita de MST é fluída e cativante e acho que vou gostar muito do Equador, que me parece ser um romance com maior profundidade do que este - quer a nível de contexto, como de personagens. 

✰✰✰ (3 em 5)

"A Visita do Brutamontes", de Jennifer Egan (Opinião)



Há livros que escolhemos e que nos rejeitam, não por estarem mal escritos (a tradução dest'A Visita do Brutamontes é exemplar e deixa transparecer uma escrita fluida e muito mordaz) ou porque os personagens são desinteressantes, mas porque não somos os leitores adequados. Foi assim que me senti ao longo de toda a leitura: na certeza de estar perante uma obra-prima e incapaz de a apreciar por falta de referentes. Não é fácil perceber o universo em que se movem os personagens porque o mundo da música e do rock and roll é muito hermético, fechado sobre si mesmo e pouco acessível à maior parte de nós - tratando-se de referentes norte-americanos ainda mais distante me senti.

No entanto, não é possível ficar-se indiferente à genialidade por detrás da narrativa de Egan, que avança e recua, desafiando o tempo e o espaço com uma mestria invulgar. Pessoalmente, foi este o pormenor que me manteve motivada enquanto leitora, numa espécie de desafio entre mim e a autora para ver até que ponto é que ela me conseguia surpreender ainda mais com as técnicas que vai utilizando ao longo da narrativa.

Existem dois capítulos absolutamente geniais - não digo quais são porque ao longo dos 13 existem muitos por onde escolher - e é para cada um deles que vai cada estrela.

De facto, os Pulitzer para ficção não têm sido consensuais e este é mais um exemplo.
 
✰✰ (2 em 5)

"O Décimo Terceiro Conto" de Diane Setterfield (Opinião)

É um livro fantástico. As personagens, a atmosfera (muito própria da literatura inglesa do século XIX) e o mistério, distribuído em doses certas ao longo dos capítulos, fazem deste livro um dos meus favoritos deste ano - e talvez de sempre.

É um livro apaixonante para nós que estamos permanentemente apaixonados pelos livros.

A única recomendação possível é dizer que é de leitura obrigatória! Foi um privilégio!

✰✰✰✰✰ (5 em 5)

"Irmãs de Verão" de Judy Blume (Opinião)

Comecei a ler este livro um bocadinho a medo, fruto de algumas opiniões que fui recolhendo, aqui e ali. Houve mesmo quem não conseguisse chegar ao fim após a leitura de 100 páginas.. Fico sempre desconfiada quando alguém não consegue acabar de ler um livro, porque normalmente isso é sinal de que há qualquer coisa de errado (com o livro, claro, não com o leitor).

No entanto, gostei. É uma daquelas histórias que reconforta a alma por a história nos ser tão familiar. De início parece que é tudo muito banal e superficial, mas as raparigas, a ilha e a história vão ganhando corpo e de repente também nós já passamos todos os Verões na Vineyard com Caitlin e Victoria.

Ao longo dos capítulos vão-nos sendo revelados os pensamentos mais íntimos dos vários intervenientes - dos pais das raparigas, da avó e da tia, mas também dos irmãos e dos (vários) rapazes e amigas. Este é um pormenor que me agradou imenso porque nos dá um ponto de vista totalmente diferente do da protagonista (seja ela Caitlin ou Victoria).

Gosto muito destas histórias biográficas, que vão acompanhando o crescimento dos personagens.
O livro começa quando as raparigas tem 12 anos e acaba já elas passaram dos 30 - e é o que faz sentido, tendo em conta o desfecho (que para mim foi a parte de que mais gostei e que mais me surpreendeu).

✰✰✰✰ (4 em 5)

"O Sentido do Fim" de Julian Barnes (Opinião)

Estava com grandes expectativas quando comecei a ler este livro, não só pelas opiniões que fui lendo, mas também porque foi Man Booker Prize em 2011 (o que nem sempre é consensual).

Adorei a 1ª parte, gostei menos da 2ª. A tradução é excelente, a escrita muito fluída, simples e inteligente. As considerações acerca do espaço-tempo-memória fazem-nos reconsiderar o modo como incorporamos o passado no nosso presente e como é que o passar do tempo afeta a nossa perceção do que aconteceu.

A 2ª parte é mais confusa... talvez fruto das próprias incertezas que Tony (o personagem central do livro) sente no seu tempo presente.

Acabei por ficar dececionada, mesmo que considere que a primeira parte do livro é genial. Não é fácil falar-se sobre a memória, o passado e as recordações e neste livro o autor fá-lo magistralmente.


✰✰✰ (3 em 5)

O (re)início

Em tempos tive um blog sobre livros. Lembro-me de estar muito empenhada em ser lida pelos outros e em ter muitos seguidores. No entanto, perde-se muito tempo em consolidar uma "base" de apoio e talvez por isso o meu interesse tenha esmorecido, aos poucos, até ao ponto em que um último post colocou um ponto final num projecto que foi giro enquanto durou.

Agora só estou interessada em dar a minha opinião, seja ela lida por uma pessoa ou por 1000. Sem passatempos, publicidade, filiações ou enquadramentos: este não é lugar para sinopses ou biografias de autores. É um blog sobre os livros eu li e quero ler. Nem mais, nem menos.