domingo, 27 de julho de 2014

"O Príncipe das Marés", de Pat Conroy

Este foi o primeiro livro que li de Pat Conroy, mas seguramente não será ultimo - tenho já em lista de espera outro livro deste autor, que também tem como cenário a Carolina do Sul, intitulado "O Último Verão das Nossas Vidas".

"O Príncipe das Marés" não é Tom Wingo, a figura central da história. Este homem de meia idade, desempregado e a viver uma crise no seu casamento, ao mesmo tempo que tenta lidar com mais uma tentativa de suicídio da sua irmã gémea, não tem em si mesmo força de carácter para ser considerado um príncipe das marés. Aliás, toda a história se desenvolve em torno das fraquezas de Tom e do modo como o seu carácter, personalidade e sistema de valores se consolidam em oposição dos dos irmãos, todos diferentes entre si, mas irremediavelmente complementares. 

A história de Tom Wingo e da sua família vai muito além desta descrição que fiz. O livro dá-nós também a conhecer a dura realidade dos pescadores de camarões dos rios da Carolina do Sul, tão diferente das imagens que construímos acerca das paisagens do norte da América. É também uma lição de vida, no sentido em que nos alerta para a importância que têm os acontecimentos traumáticos da infância, o modo como os pais podem marcar (aqui pela negativa) irremediavelmente a vida dos filhos, ao ponto de os transformar em adultos muito diferentes daqueles que poderiam ter sido noutras circunstâncias. A dada altura há uma perda total da noção das consequências dos próprios actos. Aqui todos foram vítimas das circunstâncias e das ambições inconcretizaveis - o que os pais das crianças Wingo desejavam para eles próprios lançou toda a família em desgraça, financeira e psicológica. 

Foi um livro que me deu muita luta: demorei mais tempo a lê-lo do que tinha planeado. É duro, cruel, pungente e muito melancólico. Está presente em todas as páginas a tristeza provocada pelas  oportunidades perdidas, pelo tempo desperdiçado, pelas palavras ditas ou mesmo pelas que ficaram por dizer. É uma obra quase poética pela capacidade de materializar uma angústia profunda que varre toda a família Wingo.

Não vi o filme O Príncipe das Mares", protagonizado por Barbra Streisand e Nick Nolte e ainda bem: Tom Wingo e a Susan Lowenstein (a psiquiatra que acompanha a irmã suicida e que guia Tom até às profundezas do seu passado) que eu imaginei não correspondem à imagem que surge na capa da edição que li, retirada do material publicitário do filme. É sempre assim: o livro é melhor do que o filme e até só fim achamos sempre que teríamos feito um casting muito melhor!


✰✰✰✰✰ (5 em 5)




2 comentários:

  1. Olá :)
    Ainda não conhecia o teu blog, até que li esta opinião no goodreads. :)
    Gostei muito e fiquei muito curiosa com o livro!
    Boas viagens,
    Rosana
    http://bloguinhasparadise.blogspot.pt/

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  2. Olá Rosana. Obrigada pelo feedback. Se ler diga-me se gostou.
    Já visitei o blog e gostei muito. Acho uma excelente ideia que amigas se juntem para falar sobre livros. Parabéns.
    Joana

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