Escrito nas vésperas da grande crise financeira do subprime, dos
créditos de risco e da bolha especulativa e imobiliária, Union Atlantic é um livro sobre a economia
mundial, mas também sobre pessoas, sobre os medos e as ambições que
inexoravelmente vão regendo as vidas de cada um.
Iniciei
a leitura deste livro com receio de não ter conhecimentos suficientes
para compreender alguns termos técnicos que se adivinhavam: swaps,
subprime, créditos de risco, etc. No entanto, o autor só recorre a uma
linguagem mais técnicas quando é estritamente necessário e quando quer
conferir autenticidade às suas descrições ou aos diálogos entre as
personagens que estão diretamente ligadas ao mundo da banca e da alta
finança.
A crítica aplaudiu a obra de Haslett precisamente pela contemporaneidade do tema escolhido: a crise económica que assentou na concessão de empréstimos de alto
risco; a forma como a falta de regulação dos mercados
(especialmente do Norte-Americano) levou à insolvência de várias
instituições bancárias (que também estendiam a sua ação ao ramo dos
seguros e da imobiliária); e a quebra de confiança geral no sistema
financeiro após a crescente perceção de que a falta de liquidez no
sistema não era uma possibilidade, mas sim uma realidade.
No
meio deste furacão financeiro, entrecruzam-se as personagens de Union Atlantic: Doug Fanning, um jovem e ambicioso banqueiro, que
fez fortuna a dirigir as operações financeiras de alto risco no "pequeno"
império que é a instituição que dá nome ao livro; e Charlotte Graves, uma
professora de História compulsivamente reformada, cujos esforços para
recuperar a herança de família a colocam em confronto direto com
Doug, numa cruzada jurídica com reviravoltas muito
significativas.
Ainda assim, o antagonismo entre Doug e Charlotte é mitigado pelo que há de comum entre estas personagens que estão inexoravelmente unidas pelo caos em que se encontram as suas vidas despedaçadas, e a própria espiral de descontrolo que os envolve acaba por ter paralelo no próprio desgoverno em que se encontra o sistema financeiro.
O conflito entre Doug Fanning e Charlotte Graves
é, na realidade, uma parábola, que ilustra a forma como a intromissão
generalizada do dinheiro, do desperdício e da ostentação (como é
referido pelo próprio autor) colidem inevitavelmente com os valores da
justiça, da lealdade e da transparência.
O autor não optou por
um fim moralista ou redentor. Acaba por não ser feita justiça no sentido
literal do termo, pois não há condenações efetivas para os que
perpetraram os crimes em causa, e o sistema mantém-se inalterado - aqui e
ali somos alertados para as complexas relações que se forjam entre o
sistema político e financeiro dos EUA, sendo evidente que o Capitólio e
Wall Street funcionam em estreita cooperação.
Ainda assim, o desfecho é circular e o leitor fica com a
sensação de que não ficam pontas soltas por atar: Doug pacifica-se com o
passado e Charlotte acaba por conseguir exorcizar todos os seus
demónios, mesmo que o seu destino acabe por ser o mais trágico de todos.
✰✰✰✰ (4 em 5)
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