segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

"Quando a Neve Cai", de John Green, Maureen Johnson e Lauren Myracle

Desde que li o livro "A Culpa é das Estrelas" que John Green tem um lugar muito especial na minha estante. Embora as obras deste autor sejam classificadas como "literatura para jovens adultos", não houve um único livro que me tenha feito sentir desconfortável ou que considerasse desadequado por já não ser uma adolescente. Pelo contrário, as perspetivas mais lineares de John Green, que decorrem do facto de o autor construir os seus enredos em torno dos pensamentos, ansiedades e expectativas comuns a todos os adolescentes, permitem a um público mais adulto e maduro um tipo de identificação que só é possível a quem já viveu "dramas" semelhantes num passado mais distante.

O distanciamento com que um adulto lê as obras de John Green é confortável e terapêutico: a adolescência é um período muito conturbado e certos acontecimentos dramáticos (uma doença, uma separação, uma ausência) têm proporções épicas e desencadeiam uma série de sentimentos e sensações com as quais estes jovens adultos não conseguem lidar, porque não têm as ferramentas ou a experiência de vida adequadas.
Cada vez que leio um livro de John Green dou por mim a viajar no tempo e a analisar determinadas situações do meu passado que consigo compreender e aceitar muito melhor agora, e este é um exercício muito reconfortante e construtivo, que talvez não ocorresse tão conscientemente se não fosse despoletado pela leitura.  Assim, nem que seja por uma horas, cada história permite-nos voltar a uma época em que sentíamos tudo com muito mais intensidade e em que todas as possibilidades se abriam à nossa frente sem o peso do futuro que nos aguardava.

"Quando a Neve Cai" encaixa-se nesta descrição, embora não seja da exclusiva autoria de John Green. Juntaram-se-lhe Maureen Johnson e Lauren Myracle, cujas obras anteriormente publicadas também se destinam ao público mais jovem. Estes três autores escrevem três contos distintos, que podem e devem ser lidos por toda a gente, de todas idades. Só há uma recomendação: façam-no em época de Natal, de preferência aconchegados numa manta, em frente de uma lareira ou num sítio quente.

Do facto de serem três autores a escrever três histórias diferentes que se entrecruzam, no tempo e no espaço, podia resultar uma obra desconexa e atabalhoada. Mas na realidade o que resultou foi um livro que nos aquece o coração, que nos emociona e nos relembra do que está na base do espírito natalício: os laços de amor, amizade e lealdades que nos deviam unir durante o ano inteiro.

Oito rapazes e oito raparigas, cujos caminhos se cruzam inevitavelmente durante uma das maiores tempestades de neve que ocorreu nos últimos cinquenta anos naquela zona dos EUA, apaixonam-se, ultrapassam obstáculos, vencem fantasmas interiores, aprendem a olhar para dentro de si próprios e relembram-nos de que os finais felizes têm que ser construídos por cada um de nós - não nos são oferecidos como uma dádiva que é nossa por direito.


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