segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

"O Pintassilgo" de Donna Tartt


Uma bomba explode no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque. Nesse dia, com apenas 13 anos, Theodore Decker perde a mãe, mas ganha um quadro e um anel de sinete.

O quadro é o famoso "O Pintassilgo" de Fabritius, um discípulo de Rembrandt, considerado um génio perdido entre as grandes figuras da pintura holandesa do século XVII. Todas as subsequentes 800 e tantas páginas giram em torno desta obra de arte, cujo incalculável valor (sentimental para Theo, artístico e patrimonial para a humanidade) a transformam em objeto de admiração e cobiça.

O anel de sinete era pertença de um idoso que estava no museu com a neta e um objeto que acaba por determinar o percurso de vida de Theo, que segue o rastro desse anel até um antiquário, um local que será determinante no seu futuro.

Simultaneamente talismã e maldição, o quadro "O Pintassilgo" acompanha todo o percurso de Theo, de Nova Iorque a Las Vegas, e posteriormente até Amesterdão.

Órfão de mãe, Theo parte com o pai para Las Vegas, levando consigo em sigilo o famoso quadro e um desgosto que lhe parece inultrapassável. É lá que conhece Boris, uma das personagens mais cativantes deste romance, e com o qual se tenta reinventar através do esquecimento e fragmentação que só o álcool e as drogas podem proporcionar.

Quando regressa a Nova Iorque, Theo já é um adolescente quebrado por dentro: nunca recuperou da experiência traumática vivida no dia do atentado e nunca há-de emergir do ciclo vicioso iniciado em Las Vegas - os opiáceos eram a única fuga possível, catapultando-o para uma dormência tolerável.

O que se segue já faz parte da enredo do próprio livro. Theo volta à loja de antiguidades, à qual ficou irremediavelmente ligado desde que aceitou o anel de sinete das mãos do velho Welty, naquele dia fatídico.

A atribuição das 3 estrelas prende-se exclusivamente com a dimensão monstruosa do livro: são quase 900 páginas, indispensáveis para a total compreensão da narrativa, é certo, mas de certa forma cansativas e desmotivantes a partir do último terço da obra. Ainda assim, é uma história que vale a pena: a profundidade e complexidade das personagens, bem como a forma como a autora tece todo o enredo são, de facto, dignos do prémio Pulitzer para a ficção, que ganhou em 2014.

✰✰✰ (3 em 5)